22 de novembro de 2013

Alteridade

um poema feito com o auxílio do google (tradutor)


Oi, sou mulher, quero ser amada
quero um homem rico, quero sexo

Hi, I'm a woman, I want to be possessed, led
I want to marry a gentleman companion

Hola, soy una mujer que quiero jugar futbol
quiero seguridad, quiero ser escuchada

Salut, je suis une femme qui veulent étudier,
veut être évalués, veulent être séparés

Ciao, non so chi sono
mai voluto vivere io voglio morire ora

Errar é humano,
o erro é proposital


eu disse isso?

inspirado nos Bots do facebook

O clássico disse: A eterna e incessante busca pelo contrário
[sabedoria
O pseudointelectual disse: ADAPTAÇÕES SÃO UMA PORCARIA!!!
[leia livros
O engajado disse: A primavera é quando o oficial de justiça chegou na presença de Geraldo Alckmin
[E aí, democracia?
O poeta contemporâneo disse: Vou ficar com o paraíso?
[Talvez o paraíso nada mais seja que um parque...
O policial disse: São bandidos que têm que ter instagram
[#partiu #crime #instaprision
A criança disse: Te desejo tudo de bubbaloo de tuttifruti!
A estudante disse: Eu = zumbi
A ambiciosa disse: NUNCA! Eu conquistarei o mundo!
A doméstica disse: O foda é que lá tem cursos para editais específicos
[tem também o de cozinhar, passar, lavar louça ou roupa
A apaixonada disse: Com você príncipe, vou até o Piscinão de Ramos
A Maria Gasolina disse: a arte de passear de carro
A bêbada disse: Tem o exemplo do meu primeiro porre
[Esses dias eu lembrei da legalização do aborto no Brasil
A piriguete disse: o bundalelê foi tão perfeito
A forever alone: Coversei com três PMs que me abraçaram como nenhum garoto
A solteirona disse: Sigo o pessoal, faço cafezinho, lavo, passo, chamo de meu amor
A recém casada disse: Eu não aguento você todo dia!
A invejosa disse: às vezes eu imagino como seria horrível ter amigas maravilhosamente lindas
O acadêmico disse: parece importante, mas escreve a própria página no wikipédia
O gramático disse: Estou indo ao hospital da linguagem e já volto
O  professor de língua estrangeira disse: Não confie no google tradutor
O rico disse: a classe média sofre
O pobre disse: Adoraria vestir Prada, mas, infelizmente meu orçamento não é piada
O egocêntrico disse: Tenho respeito ao meu maior alterego
[no momento estou pensando em mim
O virgem disse: você viu? sua mãe era um real
O jogador de futebol tarado disse: sabe, você está colocando a mão na bola...
O depressivo disse: Queria criar coragem para voltar a sorrir
O descolado disse: Pessoas que têm vida interessante não têm fricotes
O velho disse: Gata, eu sou a pílula azul
O homem disse: procura-se mulher que seja imutável
O filho disse: minha mãe chegou e pensei "ela podia ser minha irmã"
[Freud explica

as máquinas já desenvolveram sua própria cognição
pra que serve a linguagem humana, então?


intertextualidade portuguesa

O poeta é um amador
Ama tão intensamente
que chega a amar a dor
que o outro deveras sente
No amor sofrido sente bem,
É o que lê, escreve e mente
e ama o que nunca teve,
fingindo ter o que não tem.
Assim pelo mundo roda
Gira, a confundir a razão,
o masoquista da moda
Machucando o coração

Aula de poesia


ao poeta Buzz Feed

O poeta foi às compras e no supermercado
havia 16 anúncios promocionais

1) frango bovino, 3.99
2) panetone pulmão, 11.49
3) em todas as aves frescas, 25% de desconto
            [exceto o coelho
4) queijo fudido sadia, 4.99
5) roupas de inferno infantil, 2.99
6) todos os produtos dessa mesa contém glúteos
7) coca-cola, 2.99 o kilo
8) creme dental colgate, 1.39
             [máxima proteção anticaspa
9) violenta, 3.99
            [a flor do amor modesto e leal
10) colchão inflamável multi-uso, 50% de desconto
        [não recomendável para fumantes solteiros
11) energético Flying Horse, lê-se: Flar Hauser 6.39
12) carrinho hot-wilson, 5.90
13) home-teacher apenas 899.00
14) contra-filé bovino maturatta, 25.99
                   [ friboy-magya
15) lava roupas tixan, 3.98
              [anti odor limão, 1kg
16) cerveja curacu, 1.89, para feliciânus

O poeta saiu sem nenhuma mercadoria
mas com o carrinho cheio de poesia.

7 de novembro de 2013

árvore

ela respira
ela expira
ela inspira
e pira
ao desnudar-se
de suas folhas.
é tempo novo!
veste camiseta
verde, calça
marrom, põe
brinco de cereja.
nos pés
rasteira de tiras
que a enraíza
ela sou eu.



6 de novembro de 2013

desgosto



importava-se com a opinião alheia
importava-se tanto que os comentários
a prendiam numa cadeia invisível
os outros a viam como adversária
e desde aquele agosto, tudo é suposto
sem ao menos dar-lhe o direito à palavra
ouve-se pelos corredores o cochicho
e enquanto uns dizem: "não liga pra isso."
a contragosto ela permanece submissa
à plateia que a trata como bicho
seu silêncio é como cilício para outros
mas incidem violentamente sobre ela
almejando destruir aquilo que imaginam
ser um artifício (que não é)
sobre o livro ela firma o compromisso
de ensurdecer-se, pois já está muda
deseja a paz, mas cuspam-lhe o rosto
sente-se incapaz de ignorar o que vê: risos
precisa de ajuda, uns escrevem: "esqueça-os"
mas a memória não permite, há imagem
o duplo desgosto é inexplicável, então
aceita o convite para o lugar imprevisto
lá, toca a placa que em braille diz:
"seja bem-vinda, você é amável".

16 de outubro de 2013

Pega-pega



caíam em pé, corriam deitadas
diante do vidro eu observava
uma atrás da outra gritava:
"_Lá vou eu!" e todas disparadas
disputavam o primeiro lugar.
aos poucos ficaram cansadas
e o sol veio a brincadeira acabar
no fim da minha viagem de trem,
já não havia nenhuma gotinha
que pudesse me pegar.
Ganhei!

9 de outubro de 2013

Mutação

ela é ela
ele é ele
ela não é ele
ele não é ela
ela quer ser ele
ele quer ser ela
ela agora é ele
ele agora é ela
          SEXO.

30 de setembro de 2013

Europa


Lá vai ele, a Europa o espera e ele nada espera. Tão simples, deseja saber o que os outros querem de lá, enquanto ele só deseja voltar com um globo de neve. Nada de segurar a Torre de Pisa, nada de esperar a meia noite olhando o Big Ben, sozinho: nada de passear pelas gôndolas de Veneza, nada de conhecer o palácio de Versalles, nada de visitar Auschiwtz. Nada. Quer apenas aprender. O mundo só tem graça quando uma pessoa está por perto. Em meio ao sentimento do nada estão múltiplas expectativas. Uma mala cheia de sonhos, com um futuro que a  viagem pode deixar mais bonito. Estar entre o espaço e o tempo é o hermetismo da vida.


Marcas


Era um senhor negro, de  bigode, tão calvo que sua teste parecia ter dez centímetros. Em seu pescoço havia um colar, usava camisa vermelha, calça e sapato social, e uma jaqueta de esporte. Usava óculos e franzia a testa numa expressão ranzinza, mas no fundo seu olhar era muito doce. Suas mãos batiam no joelho em ritmo de samba, quando não a mão, o pé acompanhava. Não sei qual canção tocava em sua mente. Não sei se seu nome era Noel, Adoniram ou Zé, sei apenas que ele tinha um nome o qual não sei. E uma história. Uma história que, se não foi bonita até agora, desejo que seja.  

Futuro


O futuro mora logo ali. O futuro é alto, gordinho e barbudo. O futuro tem cara de mau, mas no fundo é bonzinho. Sorri. O futuro veste-se de forma engraçada, usa um relógio roxo com um bonequinho no visor, calça social, camisa xadrez, tênis vermelho e uma mochila de skatista. O futuro desejou-me boa sorte e então saí. O futuro e eu moramos no mesmo lugar e de cá pra lá são 100 km. Lá é diferente de cá, mas o futuro está nos dois lugares ao mesmo tempo. Lá é arborizado, de grande extensão e cheio de livros, para um grupo seleto de pessoas. Cá é movimentado, tem cimento por todo lado, é grande, mas sem espaço e muito heterogêneo. O futuro me aguarda para falarmos de uma moça que escreve poemas. O futuro e eu gostamos do que ela escreve, de suas discussões e reflexões, é ele quem vai guiar meu pensamento sobre o que ela escreve ou não escreve. O futuro poeta e ela poeta vê, ouve, fala o que todos vêem e não percebem. Ah, o futuro, espero que correspondamos as expectativas um do outro. 

26 de agosto de 2013

Seu jeito de amar



Transbordo-me em lágrimas quando penso nesse seu jeito de amar. As pessoas normais não sabem o que é o amor. Tenho medo de ser normal. Tem gente que acha que pode ser feliz sozinho. Eu não. Nunca acreditei nisso. Fomos feitos para estar junto. Em um mundo onde os valores se invertem é estranho dizer que se amará alguém para sempre. Nesse mundo não existe para sempre. Não existe amor. Todos os dias percebo que as palavras não dão conta de representar muitas coisas e o amor é uma delas.

Acordar e ligar para pessoa pelo simples prazer de ouvir sua voz, é estranho. Passar em frente uma loja e imaginá-la calçando aquele mocassim, é estranho. Ouvir "kiss me" e lembrar-se da primeira vez que ela pegou na sua mão e tocou o seu rosto, é estranho. Visitar um apartamento e imaginar todo o seu futuro, ali, com aquela pessoa, é estranho. Tudo parece estranho para quem não ama. É estranho porque quando  uma pessoa acorda ela pode ouvir diversas vozes. É estranho porque ela pode ver muitas pessoas calçando mocassim, uma mais bonita do que a outra. É estranho porque a rádio toca músicas muito mais bonitas que "kiss me" e todo o tempo uns tocam os outros e vice versa. É estranho porque o ideal, hoje, é decorar seu próprio apartamento sem ter que dividir ou ceder algo por alguém.

O mundo não sabe compartilhar, por isso estranha esse seu jeito de amar. Minhas lágrimas decorrem porque dentre tantas pessoas que o habitam, eu posso sentir o amor. Não sinto vontade de estar perto de você simplesmente pelo prazer da sua companhia, mas porque ela me faz falta. Não é só porque o seu sorriso é o mais lindo que eu já vi, não é só porque estar perto de você me torna uma pessoa melhor, não é só... é muito mais. Estranho mesmo é o meu jeito de amar.

Sempre me blindei para ninguém entrar no meu coração. Em contrapartida escolhi você para recortar seu coração e colá-lo pertinho do meu, no desenho que estou fazendo sobre a vida. Para ele já recortei uma casinha, uma igrejinha, uma escolinha e você pode escolher aonde podemos colar cada um desses pontos. Do outro lado eu pintei um campo, com a luz do sol e muito próximo podemos ouvir o som do mar. O nosso desenho ficará perfeito quando as outras partes se colarem. Na nossa mesa não faltará o pão, não faltará risos, nem amigos. Na parte de cima desenhei um risco, com corações pendurados, deles chovem muito amor e quem se aproximar não vai estranhar mais, porque o amor é bom.  E melhor ainda é esse seu jeito de amar.

25 de agosto de 2013

Voz

Gosta de ouvir sua voz. Tem um sotaque de quem só pode vir de cima, mas não sabe bem ao certo de qual lugar. Essa voz tem dificuldade em pronunciar o "nh" do português brasileiro. E a frequência varia por uns tempos entre 50 e 3000 Hz. A plenos pulmões o caminho que o seu ar percorre passa pelas pregas, dentro da laringe e articula-se ao palato, à língua, aos dentes e aos lábios: está para cantar. Seu diafragma sustenta tão plenamente os pulsos sonoros que a melodia segue uma continuidade interrupta apresentando harmoniosamente a surpresa, a felicidade ou mesmo a raiva de quem sente os acordes do outro intrínsecos aos seus. Quando canta a dor seu timbre fica mais grave, mas se canta o amor é como um xote, leve, livre, libido. Ela não canta, não toca, mas pelo tom e a altura de sua voz, reconhece, e vai em sua direção para encontrar. Sua voz trás um bem que padece, um conforto incômodo, um doce amaricante, uma paz instável. As cortinas se abrem. Está tudo em preto e branco, como uma foto. A noite é úmida, mas em comum acordo todos silenciam. Explode o cantar, cantar e cantar. Até o presente momento tudo que foi dito estava na memória. Agora ela olha e com um nó na garganta emudece em sua melancolia, esperando que com a apresentação a chuva leve embora dezembro. Nada passa, apenas alguns minutos, então ela sonha em segredo, com o dia em que, não para magoar, a chamará de Maria Linda. Tudo isso é um grande desacato consigo. Sua voz canta para o lugar, canta para outrem. Ela sai, dentro da madrugada e vê pelos outdoors da cidade sua repercussão. Sabe que nunca será chamada. Nunca será lembrada. Nunca esquecerá sua voz. 



Algum lugar




A verdade é que ela anda à procura de um sentido, e um lugar só o tem quando representa algo. Mesmo conhecendo a história de um lugar, vendo as imagens de um lugar, ouvindo as músicas de um lugar, enquanto ele não representar algo que faça sentido, a vontade de ir ao lugar inexiste. A questão é que nunca se conhece um lugar quando não se é de lá e mesmo quando é, é possível ser estrangeiro na própria morada. Quando se está fora do lugar de origem ou no mesmo lugar, conhece-se pouco, mais o banal e talvez nada do essencial, mas tem aqueles que podem dizer quase tudo. E ela está à procura. De repente conhecer alguém de um outro lugar lhe confere uma representação, consequentemente um sentido. Ver e ouvir do outro as descrições de seu lugar trás ao pensamento a vontade de ir. É mais do que todos sabem, é intimidade. É um som, um sotaque, uma cor de pele e algo a mais que é diferente. Todo lugar tem algo de seu. (Im)palpável. Dentro de si todos têm algo de seu, mas o sentido é desconhecido. E ela ainda está à procura.


Tradução do tempo

para não esquecer que ela está aprendendo algo que nem ela mesmo sabe o que é.


19 de agosto de 2013

Adorno

Tem odor Adorno firmou com a Arte um
drástico acordo de driblar o demônio pelo
dístico idílico. Partiu com dor e o condor o
levou com a divida, a dúvida e a dádiva de mudar.

Ao saber da vida do ditador e da morte
do trovador que, sem pôr adornos, escondia
com ardor os escritos andores do campo
a dor de Tem odor Adorno virou dor doída

Assim a filosofia efervescia, a polícia invadia
e ficou impossível escrever poesia.

7 de agosto de 2013

Amor platônico


 Quase graduado em filosofia, Platão estava a procura do tema ideal para sua dissertação de mestrado. Platão observava as pessoas e o mundo ao seu redor, sentia-se apto para estudar suas relações, julgava-se impenetrável. 
Conheceu Diotima. 
Diotima era professora. A disciplina que ministrava, com frequência, era sobre o AMOR e a pesquisadora era uma referência no tema.
Platão já ouviu diversas teorias sobre o amor, mas ao ouvir Diotima, logo na primeira aula, identificou-se e decidiu o que gostaria de analisar. A cada dia Platão se interessava mais sobre o assunto. Ele ouvia as canções feitas por Diotima, frequentemente passava em frente a sala da professora, olhava mais de uma vez ao dia os emails que trocava com ela sobre dúvidas da matéria e finalmente adicionou-a no facebook. Platão entristecia-se nas demais aulas, pois contava os dias da semana para rever a professora e assistir suas aulas. Ainda que muitos apontassem os defeitos de Diotima, Platão os recusava, desacreditava e todos percebiam que Platão estava decobrindo algo.
Durante as discussões, o filósofo achava absurda a forma como o amor foi concebido. Indignava-se com a corruptibilidade do ser humano, pensava "Como pode o Homem abrir mão de suas virtudes  e da vida transcendental pelo simples prazer? Que prazer é esse?" (mal sabia ele que Freud explicaria isso muitos anos depois), mesmo assim ele permanecia aos pés de Diotima.
Disseram-lhe: "Platão, você está descobrindo uma nova modalidade do amor!" (talvez fosse por isso que a tal professora era uma referência sobre o tema, mas...), ele não deu confiança ao que lhe diziam e contemplava Diotima discursando com os demais filósofos, em conversas mais intimistas no café, rindo, caminhando sob a luz do sol, e quando ela o cumprimentava ele ficava sem jeito. Uma vez Sócrates disse a ele que Diotima dava aulas práticas sobre o amor e não recusava alunos, mas o pobre Platão sentia que a professora nem o notava e dentro de si havia uma imagem perfeita atribuída a Diotima e ele não gostaria de destruí-la. Sofria. O semestre estava acabando e a cada dia sentia-se mais distante de tudo, assim o filósofo mergulhou nos estudos até livrar-se daquilo que estava sentindo.
Por Diotima, Platão conquistou os seguintes títulos: mestrado, doutorado, pós-doutorado e livre docência. Sua ideia reverbera há milênios, tornando-o o famoso filósofo, já consagrado, com a tese do amor platônico.


Amor platônico é, na acepção vulgar, a ligação do amor ideal de Platão, que compreendeu o amor como algo essencialmente puro e desprovido de paixões, sem fundamentos sexuais.

5 de agosto de 2013

Morte

Pôs a mão no peito, não era amor o que sentia, era dor. Essa dor foi de peito em peito e quando todos viram, estava no chão, de olhos fechados, matando cada um.

Destino


Sente a necessidade de ter um lugar só seu. Necessidade de caminhar e não correr o risco de encontrar algum conhecido. Necessidade de tomar um café, observar pessoas, paisagens. Necessidade de olhar pela janela tendo a liberdade de atentar-se para as coisas mais banais, sem ser indagada sobre o que está pensando. Necessidade de olhar um mapa, marcar os pontos mais absurdos, nada turísticos, e percorrê-los, enquanto satisfações não precisam ser dadas. Necessidade de fazer ligações para o outro mundo por afeto e não por obrigação. Necessidade de dormir para sonhar com a possibilidade de mudar a realidade que a aprisiona. Acorda. Nem nos sonhos vive suas necessidades.  

Coração


Caminhou por um tempo e finalmente chegou à rua quatro. Lá era o ponto de encontro. Estava bem vestida para o evento. Uma das mãos segurava o coração, a outra segurava a maçaneta que estava prestes a abrir a porta. Todos a aguardavam, principalmente a vida. Percebeu que insistir era cômodo. Desistir era enfrentar o mundo. Rememorou. Parou e olhou para si. Não se reconheceu. Vivia outra vida. Ainda parada, esperava incerta. De repente abriram-lhe a porta e com o susto estourou o coração. Ganhou um presente e sorria com os olhos marejados. Receberam-na como uma princesa e escolheram tudo por ela, pelo bem do reino. 

6 de julho de 2013

Separação


Houve um tempo em que a narradora chamava todos de flor e naturalmente a viam como uma flor, uns sentiam seus espinhos, mas a maioria sentia a delicadeza de suas pétalas. Pensando nas características de uma flor, a narradora avaliou e dentre todas as flores do seu jardim, que está morrendo, devido o tempo, percebeu que havia uma que resistia a todo inverno. 
O primeiro inverno pelo qual a flor das flores passou foi difícil, parecia que não ia sobreviver. No entanto a narradora observou que em volta da flor das flores tinham outras duas flores, uma pequenina a dava o suporte e a outra majestosa, mas um pouco velha, a protegia. Dessa maneira a flor das flores sentia um vento aqui, outro ali, mas nada que a desfalecesse.
Durante as quatro estações a flor das flores era aquela que procurava a harmonia do jardim, se uma flor dissesse "esse seu tom violeta, diante do meu rosa é horrível", a flor das flores apaziguava, dizia a Rosa que seus espinhos feriam, e à Violeta dizia para não aborrecer-se, pois a Rosa era glamourosa, mas não tinha sua força. Assim, conservava-se a amistosidade do jardim, sempre.
Um dia uma árvore perguntou à flor das flores porque ela não tinha espinhos, mas ela não soube responder, só enxergava os espinhos como ataque e não como defesa. Então plantaram um cravo. O Cravo imponente observava a flor das flores, aproveitava o curso do vento e mandava recados à flor das flores através de suas pétalas, e de recado em recado, ela se apaixonou. O jardim estranhou. Ninguém sabia dizer o que a flor das flores tinha para ser a flor das flores, ela não era a mais bonita, nem a mais forte, nem a mais cheirosa, mas mantinha a sua essência de delicadeza, sensibilidade e bondade inigualável às demais. O Cravo era popular demais, todas o admiravam, e conforme o curso do vento mudava, os recados eram enviados às outras flores, enfim. No dia que o pólen da flor das flores se unia ao do Cravo, ele a furou profundamente com um espinho, o jardim ficou hipnotizado, mas com tanta doçura a flor das flores preferiu entender que foi sem querer e pensou consigo "todos temos de conviver com espinhos", e de furo em furo, a  flor das flores sofreu durante muitos anos.
Chegando no limite, a flor das flores observava a narradora e pensava "por que ela não coloca um personagem que corte o Cravo daqui?" e no mesmo instante, apareceu o Jardineiro que cortou o Cravo e o levou para uma floricultura. Finalmente a flor das flores voltava a ser feliz, havia dias de tristeza e solidão, mas o jardim se alegrava com ela e as duas flores plantadas ao seu lado permaneciam firmes, então todo o lamento era esquecido.
Passaram-se alguns anos, de plantio em plantio muitas flores passaram pela flor das flores, muitos foram encantados por ela, mas ela não se sentia feliz, sentia falta de uma flor para amar, sentia falta de ter uma flor que a amasse. Desejou do fundo da alma que o Jardineiro plantasse outra flor no lugar do Cravo, então imediatamente um Cardo foi plantado ao seu lado. Dessa vez o jardim não estranhou, pelo contrário, exultou, os pássaros cantavam, todas as flores exalavam um cheiro suave, as abelhas distribuíam o mel, e para a concretização do pleno júbilo, o beija-flor fez a troca dos polens e algum tempo depois nasceu uma Gérbera. Tudo estava lindo.
As duas flores que acompanhavam a flor das flores meditavam, estavam receosos e o jardim não compreendia. Elas preocupavam-se porque estavam morrendo e não tinham plena confiança no Cardo. O Cardo não furava a flor das flores, mas também não fazia carinho, não dizia as palavras que ela merecia ouvir, não cuidava da Gérbera, não respeitava as flores mais velhas, e sentia que por ser mais jovem deveria aproveitar a vida, arrependera-se da união com a flor das flores. Sábias são as flores mais velhas. 
A flor das flores cansada de iludir-se, tentando encontrar explicações plausíveis para as atitudes do Cardo,  com aquele jeitinho que só ela tem, perguntou-lhe o que havia de errado e ele lhe respondeu "eu não te amo mais e não sei há quanto tempo". A flor das flores chorou. Chamou o beija-flor e disse-lhe "por que as flores me usam e depois querem me jogar no lixo?" e o beija-flor chorou. E a Violeta chorou. E a Rosa chorou. E a Azálea chorou. E a Dália chorou. E a Açucena chorou. E a Camélia chorou. E foi um chororô... Mas a Gérbera não sabe de nada.
O jardim inteiro quer que o Cardo vá embora, o jardim inteiro quer que o Jardineiro pegue a flor das flores e a leve para um jardim onde haja Clematice, Coroa Imperial, Íris azuis e brancas, Câmpanula, Alfazema, Amarílis... o jardim quer que ela conviva com outras flores para aprender novas coisas sobre a vida. Chega de invernos!
A narradora não sabe se essas flores podem ser plantadas juntas, mas sabe que é preciso. A narradora está longe da flor das flores, mas o Jardineiro não, o Jardineiro sabe o que é melhor para a flor das flores e a seu tempo o fará. Bom é que dessa vez a flor das flores não se sentirá sozinha, pois a Gérbera sempre estará com ela.


21 de junho de 2013

intimidade


São irmãos.
Apenas dezoito anos de diferença.
Ele está no maternal e ela concluindo a faculdade.
Brigam, mas se amam.
Ela diz: "Se você não me obedecer pego seus brinquedos!"
Ele diz: "Se você não me obedecer pego seus livros!"

9 de junho de 2013

casinha


ele tem cinco anos. ela tem vinte e dois.
ele tem um cofrinho. ela também.
o dele está cheio. o dela nem tanto.
ele diz: "com meu dinheirinho vou ajudar o papai comprar nossa casinha."
ela diz: "na minha casinha vai ter um quarto de cinema pra você!"
ele diz: "com esse seu cofrinho você vai comprar apartamento, não casinha. mas não se preocupa, vou encher outro cofrinho e ajudo você com a sua."

Sobre o que (não) sei: Pará



do Pará sei que a capital é Belém
do Para sei que turismo é na Ilha de Marajó
do Pará sei que a Cabanagem é um fato histórico
do Pará sei que a borracha foi uma base econômica
do Pará sei que "O Liberal" detém a informação
do Pará sei que Gaby Amarantos é um detalhe sonoro
do Pará sei que a Revoada é uma festa
do Pará sei que significa mar e vem do tupi
do Pará sei que Max Martins é um poeta

do Pará não sei a extensão territorial
do Pará não sei quantos habitantes tem
do Pará não sei a taxa de analfabetismo
do Pará não sei como é a segurança pública
do Pará não sei como são os transportes
do Pará não sei os pratos típicos
do Pará não sei qual a principal religião
do Pará não sei qual o clima predominante
do Pará não sei os dialetos e etnias

do Pará veio o professor que me fez pensar
              [sobre o que (não) sei de lá

5 de junho de 2013

canalha especial

primeira música à moda Clarice Falcão


Não é qualquer um que pode tocar essa pele macia
Não é qualquer um que pode beijar
esses seios doces como o mel

Você é um canalha e mesmo assim
farei dessa noite muito especial pra ti
e quando esse tempo findar
você nunca mais vai se esquecer de mim

Costuma trocar olhares
Costuma ouvir sua voz
Costuma tocar outras peles
Costuma beijar outros seios

mas agora quando anoitece e se achega à janela
ele olha as estrelas e só pensa nela.

um pai

um dia e ele diz à senhora "bom dia!"
dois dias e ele diz aos vizinhos "tudo bem?"
três dias e ele diz aos fregueses "vai uma fruta?"
quatro dias e ele diz ao menino "tô orgulhoso, filho!"
cinco dias e ele diz aos meninos "tenho 1,2,3,4,5 carros"
seis dias e ele diz aos parceiros "é um assalto!"
Ouve-se:
um
dois
três
quatro
cinco
seis
tiros. matou. está morto.

o menino vê a mãe chorando,
esse homem é aquele que bate um bolão
e ele diz "tô orgulhoso, pai!"
(o conhece como ninguém)

no sétimo dia ninguém descansou
só ele dorme sem saber de nada.

4 de junho de 2013

aposentadoria

veio do nordeste há muito
trabalhou, trabalhou, trabalhou
mas nada conquistou
tem família.
mora no fim do mundo
viaja, viaja, viaja
o autônomo quer ser rural,
mentira governamental
e grana nada.

31 de maio de 2013

sussurro


ouço sua voz e caminho em sua direção
estou distante e na mesma sala
não é apenas SP-RJ, é tempo
almoço com uma desconhecida
legal. como seria se estivesse ali
e essa saudade que me segue
persegue. os portugueses são assim
penso no futuro e as certezas longe
parto sem dizer até logo
não sei o que fazer/fará ao rever



facebook


chegou e disse que ia dormir
ligou o computador
tem muitos livros para ler
"vai ser rapidinho"
passam uma, duas, três horas
finalmente vai dormir
são 967 amigos e nenhum
muitos curtis e um vazio
verdades falsas
todos estão felizes
todos o tem
é uma rede
compartilham uma intelectualidade
que perde tempo ali
e para onde caminham?
é o progresso, é a tecnologia
estupefatos não sabem quem são
quem estava perto se foi e
quem estava longe, está longe
ilusão e o que são?

30 de maio de 2013

testemunha


Digo "Oi", mas não ouço resposta.
Olho em seus olhos e me dizem tudo.
Vejo-o morto, caminhando até mim.

Os humanos ainda me surpreendem.

Está enclausurado nas lembranças
lembranças que outros esqueceram.
Quem pode falar: nega. Então leio.

Rememorar é não repetir o horror.


16 de maio de 2013

irmãs


Há alguns anos atrás escrevia para falar das complicações de nossa relação por sermos tão diferentes. Ouvia dizer que na verdade éramos muito parecidas. Discordava. E você ao ler, se irritava. Mas ainda que pouco, tínhamos esse tempo juntas nem que fosse para brigar.
Sempre ressaltaram nossas diferenças. Minha pela branca e a sua morena. Meu cabelo liso e o seu ondulado. Minha gordice e a sua magreza. Meu pequeno tamanho e a sua grandeza. Te chamava por um nome que nunca ninguém de te chamou. Isso é intimidade.
Via, às vezes escondido, você orgulhosa falando de mim para as pessoas e tudo que queria era ser digna de todo esse orgulho. Também queria que me visse falando de você. Relação de irmão é assim matando e morrendo um pelo outro. Nas poucas vezes que nos vemos, observo que seu dia não é fácil, é o trabalho, são os estudos, os sentimentos e daqui uns dias decorará minha casa: eu caso. Mas tudo isso só pode ser feito se você aceitar se cuidar e parar de brincar com a saúde. Te quero bem e não me faça chorar. Crescemos e descobri que na verdade somos mais parecidas do que pensávamos. 

21 de abril de 2013

Fogueira



Todos reunidos. Fechamos os olhos. Estamos aquecidos. É noite. Só existe isso. O que está fora daqui é nossa missão. Ainda de olhos fechados ouvimos o som dos bichos na mata. Imagino suas mãos afáveis,  traçando os limites para que eles estejam ali e nós aqui. Imagino suas mãos nos acariciando através da natureza. O vento nas árvores. Sentimos a brisa. Isso é poder. Isso é real. Quanta proximidade. Quanta intimidade. Quanta delicadeza de sua parte em vim nos visitar de um jeito tão especial. Quanto tempo esperávamos por você ou você esperava por nós. Impressionante é imaginar que tudo isso foi criado com a leveza de suas mãos.  Desfaleço-me ao pensar que na sua imensidão tem prazer de estar conosco. Nossas lágrimas rolam, aprendemos com sua doce voz. Agora há silêncio. Meditamos. Fomos transformados. Quebrantados. Ficamos assim diante do seu amor. De joelhos e sem palavras.

29 de março de 2013

Recanto



Acordou. Pôs meias nos pés e pensou o que fazer do dia. Separou um livro. Preparou o chá. Ao forno: pães de queijo. Abriu o roupeiro e visualizava sweaters, vestidos floridos, coletes, cachecóis, casacos xadrez, muitos shorts e calças de cintura alta, mas poucos jeans. Na dúvida entre vestir-se e pegar o bonde, digo ônibus, ou continuar em casa, pegou a colcha de retalhos e cobriu-se. Pensou: "vou ouvir música!" Clássica? Não sabe. Apenas pôs-se a ouvir o primeiro disco na vitrola. Pães de queijo prontos, chá, quer esquentar-se do frio que faz lá fora. Ao término, saiu de pijama e pegou o jornal. Pôs-se a ler, mesmo com a música tocando. Lia notícias sobre a juventude e pensava: "a que juventude pertenço? Juventude? Sou jovem?" Na madrugada em que dormia, sozinha, jovens morriam acompanhados. E hoje, em sua calmaria, ela lê ouvindo música clássica. Que jovem é essa? Fecha o jornal. Observa sua casa, pequenina, mas aconchegante. Vai à janela e vê jovens brincando com a neve. Jovens brigando. Jovens namorando. E enquanto observa algum riso lá fora, só consegue ver felicidade no casal de velhinhos, que está de mãos dadas, bem agasalhado, sentado num banquinho da praça de árvores secas, porque nem a natureza sorri. E ela está sozinha. Deixa de observar o fora e passa a observar dentro. Seus móveis ornamentados, num estilo provençal. Cores sóbrias. Flores. Uma estante repleta de livros. Lembra-se do livro que separou, ao pensar na primeira coisa do dia. Pôs seus óculos e iniciou a leitura. Foi assim que o tempo passou, e ela, sem dar-se conta, estava envolvida pela leitura. De repente pensou, feliz: "tenho 22, mas gosto de minha velha juventude". Foi assim que ela pôde se encontrar, nessa leitura que durou 30 anos, o que fará quando olhar-se no espelho? Talvez se agasalhe para ir à praça esperar um velhinho que lhe dê as mãos. Risos.
à Madame de Steal


se estou no Norte escrevo sobre a neve
se estou no Sul escrevo sobre o Sol
que me impede de estar no Norte e escrever sobre o Sol
ou estar no Sul e escrever sobre a neve?

Eles


Há alguns sábados à tarde não a via.
Tinha uma leve impressão de que não gostava de mim (normal, sempre penso isso das pessoas). Logo, não tinha a liberdade de me aproximar.
Sempre ouvíamos que não devemos nos misturar, culturas diferentes, crenças diferentes e muita coisa diferente sempre termina mal. Era o que ouvíamos. E assim começa a história.

Num domingo ela chega. Senta afastada do grupo. Está de mãos dadas com um rapaz que todos, mesmo alguns tentando disfarçar, outros escancarando o julgamento, olham dizendo "quem é ele?", "como assim? De mãos dadas?", "o que significa isso?", e como alguém, que nunca deu muita importância para o que os outros pensam ou dizem, ela sorria, como se fosse a adolescente mais feliz do mundo.
Ao terminar a celebração, ela levantou-se, de mãos dadas com ele, sorriu para todos, foi até e mãe e os três foram embora juntos (cena que se tornaria bela e frequente).

Mais um domingo, ela chega. Senta afastada do grupo. Está de mãos dadas. Ouve-se, vê-se murmurinhos, mas uma coisa intriga: seu sorriso. É um orgulho tão grande e uma felicidade resplandecente que ninguém entende. Observemos: ele tem piercing no nariz (na comunidade ninguém usa piercing), ele, como um estranho, deveria no mínimo sorrir, mas parece que está ali apenas para agradá-la. De qualquer forma, está ali. É o que importa para ela.

Um, dois, três, quatro, vários domingos. Criou-se uma simpatia. Algo mudou aparentemente. Críticas surgiram? Várias. Mas não importa. Já há uma simpatia. Um domingo diferente. Músicas bonitas, palavras sinceras e de repente alguém levanta a mão. Ela chorava e sorria. Era ele. Todos que a amavam sorriam. Se algo aparentemente tinha mudado, agora tudo mudaria.

Passou-se um tempo e agora ambos sentam no grupo. Ambos fazem tudo juntos. Agora pode ser que ele vá no domingo e ela não. Amizades verdadeiras foram consolidadas e percebeu-se que aquilo/aquele diferente pode ser bem melhor do que o comum, aprendeu-se com ele. Basta respeitar. Confiar. Acreditar.

Ele a pediu em casamento. Tão novos, mas completos. Sonhando e realizando. E ao lembrar daquele primeiro domingo, fica o sentimento de que tudo vale a pena, se você seguir amando e evidenciando isso com um sorriso.

9 de março de 2013

Um coração mau

Dificilmente ela reflete sobre coisas sérias ou aparentemente. Só escreve quando sente. Hoje sente dor. Perseguiram alguém querido e de repente ela entende o que significa impotência. Durante a perseguição o desespero toma conta, então liga para o esposo, desvia de um carro, desvia de outro, mas a certeza do assalto é terrível. Não aparecem policiais. E em meio a tanta dor, as pessoas dormem. São 04:03 da madrugada. O telefone toca e ela acorda, atende e ouve "Me assaltaram, levaram tudo" e muito choro. Corre angustiadamente para abrir o portão, preocupada, pergunta "machucaram você?" e aquela aflição toma conta do ar. Liga para polícia, conta detalhes, mas as cenas se repetem fixamente como se não parassem de acontecer. O esposo retorna e a única coisa que sente é gratidão, ainda assim, está tudo bem. Diante desse cenário ela se pergunta por que alguns homens escolhem ter um coração mau? Famílias inteiras choram o assassinato, o sequestro, o estupro, a violência e hoje sua família chora o assalto.
Era o carro que levava o bebê à escola, que levava à aula de canto, à casa de amigos, às viagens, ao serviço, à igreja. E onde está o carro agora? Em algum desmanche, talvez.
Mais ainda há a esperança de que homens de coração mau escolherão ter um coração bom. Ainda há esperança. Sempre há esperança. Mas por enquanto há tristeza.

5 de janeiro de 2013

Paraíso


Durante dias a cobra disse:
_ Eva eu sei como voltar ao paraíso.
Mas ela não acreditou.
Cansada de sofrer parindo e vendo Adão desfalecer no trabalho da indústria, novamente ela aceita o conselho da cobra e diz a Adão que sabe como retornar ao paraíso.
Felicíssimos, partem nús e de repente ouvem "tantam estação paraíso do metrô, desembarquem pelo lado esquerdo do trem".

(na condução do trem estava a cobra às gargalhadas.)

Inocência

_ Quantas pessoas existem no mundo, Bruno?
_ Agora é difícil responder, Shmuel, mas acho que em 2012 o mundo vai ter 7 bilhões de pessoas.
_ Tudo isso? Se vai ter tudo isso, então finalmente vai ter humanidade no mundo.
_ Será?


3 de janeiro de 2013

Mulher




a quem pertence o corpo da mulher?

arraste-a sob a pedra lascada!
decifre ou devore a bela Musa.
a burguesia diz: cale! Não traia!

uma lê contos de fadas e sonha,
outra escreve literatura feminista
trabalham e 129 morrem, dia 08.

estudam e votam, mas são mudas
cobro. sem esporte vão para casa
e Simone reflete sobre todas. sexo.

igualdade. liberdade. política.
saúde. aborto. violência.
delegacia: quem ama não mata

a quem pertence o corpo da mulher, Penha?

2 de janeiro de 2013

Agora na Casa



Procuro a rosa 
e sei onde está
Pela rosa encontro
o que na verdade procuro. Prosa 

que em poesia está a florescer
ainda, sob tanta metáfora;
certo é que quando as procuro 
vou me reconhecer
 

como diante da infância
princípio de embasamento
sem nenhuma palavra
mas cheia de lembrança.
 

Hoje talvez possa então
escrever sem porquê,
sabendo a mesma e nova razão
de estar entre a pena e o Pina que não se vê.