1 de junho de 2015

aprendizagem

há dias meu velhinho pediu que o levasse para ver o tio. pela primeira vez eu fui sem reclamar de nada, e não me orgulho disso. eu tenho prazer em agradar meu velhinho, mas encontros de família desconhecida... fomos. ao chegarmos, vi que o tio dele estava vendendo saúde e não soube qual impacto isso traria, afinal meu velhinho está muito doente. não suporto vê-lo assim, eu não quero atender seus pedidos porque ele pensa que são os últimos, quero apenas vê-lo bem. seu tio nos recebeu com tanto anelo que em nenhum momento pensei "que saco, estou aqui", na verdade gostei muito de conhecer parte da família desconhecida e percebi que perdemos muito ao evitar certas experiências. há muito tempo não vivia uma tarde preciosa como aquela. o tempo ensina muito. quando todos estavam reunidos, compartilhavam suas histórias, ensinamentos e quanta aprendizagem! o tio do meu velhinho, mais velhinho que ele, foi quem o recebeu em sp quando veio do interior de pernambuco. ele nos contou as humilhações que sofrera por pedir emprego em tantas portas e as constantes negações, até que se ajoelhou, pediu a Deus que lhe desse uma oportunidade e finalmente conseguiu. com orgulho, disse que o pai o ensinou nunca roubar, passar fome, mas nunca fazer algo que possa ferir o outro. meu velhinho, para o tio, só pode ser um homem grato. sua família, que em alguma medida é a minha também, foi tão atenciosa, preparou um almoço que por mais simples que fosse foi delicioso porque sentíamos o sabor da alegria em receber aquela visita inesperada. onde come um, comem dois, três, quatro, quantos tiverem. naquele dia o tempo passou e eu nem vi. na verdade os últimos dias tem sido assim, tenho tido experiências tão pequenas que causam transformações tão intensas que me desconstroem e eu nem percebo o tempo passar. eu envelheço também e vejo que sei tão pouco... quando saímos de lá só haviam sorrisos de ambos os lados, meu coração fervia e o meu cérebro não parava de pensar, permaneci calada. houve um tempo em que falava demais, hoje prefiro ouvir e sou uma pessoa melhor. eu não sei quanto tempo de vida ainda resta para todos os personagens dessa história, mas sei que todos viveram honestamente, com amor, fé, trabalho, e orgulham-se de contar suas histórias que perpetuarão de geração à geração, numa mesa que te espera para ensinar mais sobre a vida.

memória fraterna



eu e ele somos irmãos
irmãos que o destino escolheu
dezoito anos nos separam
dizem que virei gente
quando ele nasceu

[tudo porque por ele faço tudo,
e ninguém precisa pedir]

antes eu não sabia dizer
"eu te amo"
agora eu distribuo, e de verdade.
ele é tão puro!

há sete anos eu o via todo dia
e que alegria!
com ele aprender a viver é certo.
eu lia livros, contava histórias
e ele disse à professora
que aprendeu poesia com a irmã.

há dois meses eu me casei
e ele correu para levar as alianças
disse que correu porque eu estava
com pressa
a verdade é que o tempo passou
e eu nem vi, mas vivi.

ontem ele dormiu aqui em casa
e eu senti saudade,
mesmo levando ele toda sexta
ao taekwondo.
eu não quero que ele cresça
e me esqueça.

sou a medrosa dos sentimentos
refém do tempo.