24 de dezembro de 2012

Uma festa

No princípio estavam reunidos mãe, "pai" e filho.
Para conhecê-lo foram convidados seis amigos, homens que carregavam cetros. Três para guiar ovelhas, três para guiar povos. Seres sobrenaturais cantavam.
Mesmo com tanto poder havia singeleza de coração, propícia para o lugar.

As alegorias indicavam: não há o que temer. Há paz. Há amor.

No fim estavam reunidos "mãe, pai e filho".
Amigos foram convidados apenas para compartilhar presentes. Mostraram a mirra, o ouro e o incenso. Músicas tocavam. Mesmo sem nenhum poder, havia arrogância no coração, inadequada para o lugar.

As alegorias indicavam: há o que temer. Não há paz. Não há amor.

E depois do fim, o que virá? A esperança segue:

Depois do fim estavam reunidos mãe, pai e filho.
Para a festa todos foram convidados, preto, branco, pobre, rico. Eram iguais. Havia singeleza de coração e por isso havia poder. Da alegria surgia a música. Não havia presentes, pois a companhia e o riso uns dos outros era o próprio presente. Não esperavam o ano todo por uma festa, porque a vida era uma festa.

Desfeita


Foi você quem ele esperou na festa
A meia noite ao vê-lo triste, chorei
me perguntei que consideração é esta?
O abracei e jurei que não esquecerei.

19 de dezembro de 2012


Palavras podem representar ações ou até antepô-las.
Palavras são como flores.

_ Como são as flores?
_ São delicadas e cheirosas, mas podem ferir com seus espinhos.
_ Onde estão as flores?
_ A beira do caminho, sob os trilhos.
_ E as palavras?
_ Também.
_ Vai colhê-las?
_ Sim.
_ Veja aonde elas estão.
_ Tudo bem, não importa.

Flores colhidas, palavras feridas, escolhas feitas.
Um misto de angústia e paz são as palavras ou as flores, ou até os sentimentos que representam esse suicídio.

(Talvez o trem passe, na verdade passou. Pra onde as levou? As palavras e a pessoa, não sei, mas as flores estão em seu túmulo agora.)

_ Queridos, como sabem vou viajar.
_ Vai pra onde?
_ Paris.
_ Que delícia!
_ É, vai ser sim. É à pesquisa. Quer dizer, se meus meninos deixarem.
_ Mas seu esposo não vai com você?
_ Mas ele é o mais menino de todos, ele é quem me preocupa.
_ Quanto tempo?
_ Dois meses.

(E lá vai ela e não eu, é a fragmentação do sujeito pelos lugares que passa. Sempre fica um eu e sempre volta uma outra.)