29 de março de 2013

Eles


Há alguns sábados à tarde não a via.
Tinha uma leve impressão de que não gostava de mim (normal, sempre penso isso das pessoas). Logo, não tinha a liberdade de me aproximar.
Sempre ouvíamos que não devemos nos misturar, culturas diferentes, crenças diferentes e muita coisa diferente sempre termina mal. Era o que ouvíamos. E assim começa a história.

Num domingo ela chega. Senta afastada do grupo. Está de mãos dadas com um rapaz que todos, mesmo alguns tentando disfarçar, outros escancarando o julgamento, olham dizendo "quem é ele?", "como assim? De mãos dadas?", "o que significa isso?", e como alguém, que nunca deu muita importância para o que os outros pensam ou dizem, ela sorria, como se fosse a adolescente mais feliz do mundo.
Ao terminar a celebração, ela levantou-se, de mãos dadas com ele, sorriu para todos, foi até e mãe e os três foram embora juntos (cena que se tornaria bela e frequente).

Mais um domingo, ela chega. Senta afastada do grupo. Está de mãos dadas. Ouve-se, vê-se murmurinhos, mas uma coisa intriga: seu sorriso. É um orgulho tão grande e uma felicidade resplandecente que ninguém entende. Observemos: ele tem piercing no nariz (na comunidade ninguém usa piercing), ele, como um estranho, deveria no mínimo sorrir, mas parece que está ali apenas para agradá-la. De qualquer forma, está ali. É o que importa para ela.

Um, dois, três, quatro, vários domingos. Criou-se uma simpatia. Algo mudou aparentemente. Críticas surgiram? Várias. Mas não importa. Já há uma simpatia. Um domingo diferente. Músicas bonitas, palavras sinceras e de repente alguém levanta a mão. Ela chorava e sorria. Era ele. Todos que a amavam sorriam. Se algo aparentemente tinha mudado, agora tudo mudaria.

Passou-se um tempo e agora ambos sentam no grupo. Ambos fazem tudo juntos. Agora pode ser que ele vá no domingo e ela não. Amizades verdadeiras foram consolidadas e percebeu-se que aquilo/aquele diferente pode ser bem melhor do que o comum, aprendeu-se com ele. Basta respeitar. Confiar. Acreditar.

Ele a pediu em casamento. Tão novos, mas completos. Sonhando e realizando. E ao lembrar daquele primeiro domingo, fica o sentimento de que tudo vale a pena, se você seguir amando e evidenciando isso com um sorriso.

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