20 de maio de 2017

poema chuvoso

no dia em que nasci, chovia.
inexplicavelmente todo aniversário meu chove
quando eu era criança diziam
cê tem bruchove? e eu respondia não,
mas a pergunta era 'setembro chove?'
'chove', mas agora é maio.
aquele que faz chover
compartilha a minha alheia melancolia
é como se de gota em gota
des
ces
se
uma parte de mim
de encontro com a terra e florescesse.
vamos tomar café,
(adultos tomam café)
comer bolinho de chuva
e prosear?
em frente à janela,
observamos cair água do céu.
parece fazer frio lá fora,
mas aqui dentro, bem lá dentro
é TEMPESTADE.
ao me ouvir, você seca meu chão.

a mulher que não tinha amigas

há muitos, muitos anos atrás
a mulher tinha amigas e amigos
eles cuidavam da sua casa,
do seu imenso jardim,
banhavam-se na sua piscina,
mas a conservam limpa.
eles também administravam
toda sua fortuna
e tudo caminhava muito bem,
a relação deles era de confiança.
um dia chegou uma mulher
muito poderosa, fingindo ser amiga
da nossa personagem principal.
ela expulsou da casa da outra,
todos os seus amigos.
tomou para si suas riquezas e partiu,
deixando seus empregados dominando
a pobre mulher.
com o passar do tempo,
cada um de seus amigos e amigas
foi sendo dizimado.
passados muitos, muitos anos
chegaram outras três mulheres
que disseram à nossa querida mulher
que no terreno de sua casa
havia terra fértil, que poderia produzir.
então ela voltaria a ser rica.
pobre mulher! elas não mentiram,
mas usaram seu terreno e também partiram,
com todos os bens que a terra lhes dera.
mais alguns anos se passaram.
vieram homens maus e abusaram
das filhas da mulher.
se as meninas discordavam,
se expressavam,
os homens violentavam cada uma delas
então muitas partiram
pra nunca mais voltar.
a história da mulher
ficou manchada de sangue e lágrimas.
cheia de fragilidade,
a mulher confiava em qualquer um.
agora, num passado bem presente,
quem prometeu ajudá-la,
tirou o restinho de dinheiro
que estava em sua poupança.
ela se vê só e sem esperança.
pobre mulher, só teve amigos
no início de sua história.
ao seu redor só se ouve as fofocas,
'como ela sairá dessa crise?'
'se ela tivesse escutado as filhas que partiram, 

não estaria nessa situação'
pobre mulher sem amigas!
está com a casa desconstruída,
imersa em ruínas,
pensando como sobreviver
a sua própria tragédia.