23 de junho de 2014

anacronismo


está tudo correndo,
tem milhares de pessoas ao meu redor.
passaram um, dois, três dias
passaram-se meses, anos
e está tudo correndo.
estou numa avenida
cheia de carros, cheia de movimento
vivi primaveras, verões
outonos, invernos
e eu estou parada.
conheci gente de todas as idades
e eu ainda estou parada.
o tempo gira, gira e gira,
se as lágrimas caem, param
e não chegam ao chão.
se eu sorrio o som não sai,
estou parada no tempo.
reconheço gerações,
mas não pertenço a nenhuma
alguns viajam, outros habilitados
latinos que orgulham-se de falar inglês
têm um celular cheio de aplicativos
querem o mundo, são vazios de relacionamentos
e eu estou parada no tempo.
quando quero falar, calo,
nenhum assunto me compete
e eu estou parada, parada
no espaço e no tempo.
já andei sob quatro pernas,
sob duas, em breve sob três
vejo tudo mudar
e eu continuo parada.
como se estivesse congelada
inerte, observo cada detalhe,
suas transformações,
enquanto me vêem diferente
sinto-me igual,
porque estou parada.
ouço uma música
e dentro da minha bolsa
tem discos de vinil,
apesar de viver nos anos dois mil.
quando olho o farol,
está tudo em preto e branco.
aceno para pegar carona,
mas o táxi é uma carruagem.
enlouqueço, parada do tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário