18 de abril de 2011

Entrevista



Posso dar como título para o dia de hoje 'experiência incrível', para o dia e não para o texto.
Para o texto vai o nome de entrevista mesmo porque é assim que o resumo bem. Os detalhes compartilho agora.
Ao primeiro contato pareceu-me tão áspero e ríspido que temia encontrá-lo. Sua esposa parecia ser a simpatia em pessoa, mesmo assim, ansiedade, medo, nervosismo e tensão tomavam conta de mim.
São 'apenas' trinta livros publicados, trinta e poucos anos dirigindo o jornal "O Estado de São Paulo", coordenador do circulo Fernando Pessoa, logo não falaria com qualquer pessoa, mas quando o vi muito tornou-se claro.
Intelectual como nunca tinha visto. Tão doce. Diferente do que me parecia.
A idade só mostra o quanto sabe.
Foram quatro horas inimagináveis de muito compartilhamento intelectual, de ouvir a beleza da história da literatura portuguesa e...
Ao mesmo tempo ver como a juventude é quem é realmente áspera e ríspida.
assim é perfeitamente aceitável e compreensível que num primeiro momento alguém que quase não se ouve falar, mas tem muito a dizer, um homem que foi 'esquecido' nem sei porque por uma juventude intelectual que se acha superior, por ser juventude, tenha no mínimo receios de falar com uma jovem que ainda está no meio de seu curso. Desconhecida.
Recebe-me com humildade numa riqueza singela.
De repente a esposa autêntica diz: "_Meu marido não sabe o valor de seu cérebro, meu filho não se conforma." Envergonhado, o belo senhor dá risada e diz para não lhe dar atenção.
Digo sobre simpósios e congressos aos quais participei e ele desconhece porque ninguém lhe avisou ou convidou. Agora como falar de um jornal como o "Portugal Democrático" sem mencioná-lo?
Senti dor no coração.
Com toda a simpatia passamos quatro longas horas conversando e ficaria a tarde toda ali, se pudesse, não apenas pelo conhecimento intelectual compartilhado, mas principalmente por ver sua felicidade ao me ver ali. Por sentir que há muito um jovem não lhe dava atenção e que mesmo tendo um compromisso, logo a tarde, ele tinha alegria em conversar comigo.
Uma manicure interesseira que não faz nada direito 'roubando' dois senhores, ao invés de aproveitar o momento para crescer e se algum deles fala alguma coisa ela ignora como se estivesse fazendo um favor em estar ali. Por quê?
Um motoboy mentiroso que pede assinatura e sai rindo da inocência de quem poderia conversar horas com ele e ensinar-lhe como ser uma pessoa melhor.
Senti muita dor no coração.
Como aprendi. Como foi bom.
Não pelos livros que ganhei porque são detalhes.
"Ai a minha terra."
"Vamos para Portugal."
"Queres participar de uma sessão sobre Amália Rodrigues? terei prazer em recebê-la!"
"De-me cá, deixe-me autografar para ti: '_ Para a querida Mariane Tavares.' (Oh Tavares es português)"
Nunca esquecerei esse dia.
Desejo muito que fiquem bem.

A entrevista foi de graça e se fosse cobrada seria impagável.
Enfim... para mim não teve um fim.

2 comentários:

  1. Sucesso!!!
    Mari que bom que deu td certo. Pelo o que vcescreveu parece um foi uma coisa muito boa e no mínimo gratificante. Ás vezes temos essas surpresas de ouvir e aprender muito com quem nem sempre tem o direito ou o espaço para falar!

    Parabéns pesquisadora!
    bjs

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  2. Acabei de ler o post, Mari. Que linda experiência... Lembrei de você me contando como tinha sido, o brilho nos seus olhos...
    E esta com certeza foi a primeira de várias conversas que você terá com ele e tantos outros intelectuais "esquecidos" por nós jovens.

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