8 de julho de 2011

Estrangeiro


Meu nome é Suk.
Não sou mais criança.
Vou falar um pouco da minha infância.
Sou da Coréia do Sul, não vou entrar em detalhes referentes a meu país, apesar de sua história interferir diretamente na minha.
Meus pais também são coreanos, me planejaram.
Eu era uma criança feliz. Com a crise econômica minha família decidiu morar no Brasil, na prefireria do estado de São Paulo.
Passei boa parte da minha adolescência indo trabalhar com meus pais na "Feirinha da Madrugada", no bairro do Brás. Via adolescentes entrando e saindo de uma escola técnica que tem por ali, todo dia eles compravam uma coisinha ali e outra aqui, enquanto meus pais tinham que passar a madrugada, a manhã e a tarde toda vendendo bujigangas para pagar as contas e comprar alguma coisinha para mim, no fim do mês.
Parece que não, mas a situação ainda era melhor que na Coréia.
Hoje eu sou jovem e meus pais estão muito doentes. Hoje sou eu quem trabalho na feirinha, sou eu que não concluí os estudos. As coisas mudaram porque não estou brincando na feirinha, estou trabalhando, mas ainda observo aqueles outros jovens da escola.
Hoje eu vendia gravatas e lenços, 'tlês por 10', tenho amigos que vendem bolsas por 'tlinta real', aqui vem gente de todo o tipo. Quando vendia minhas bujigangas tinham duas meninas que compravam e conversavam, ouvi uma delas dizer: "_Ai, quero muito ir aos EUA, mas não quero ficar como essa gente." Não soube o que pensar. O que é essa gente? Por que somos vistos como 'os estranhos'? Os miseráveis?
Vir para outro país sem saber a língua é difícil, abandonar sua cultura e ainda ser tratado como um objeto que se compra e vende, ouvir as pessoas dizendo que somos grossos e comemos comida fedida. Não sonhava com isso na minha infância. Nunca sonhei com isso. Sonhava em estudar como aqueles jovens, em viver na minha terra, em ver meus pais bem, que adoeceram de tanto trabalhar nesse lugar.
Sim, não sabemos a língua, sim, somos diferentes, sim, vendemos tudo mais barato, porque no seu país a miséria é tanta que se não vendemos nossa própria alma pra você saciar seu desejo de consumo, morremos você e eu, você porque não tem como comprar o original, eu porque não vendo, não como, não...minha comida fede? Fede! Mas não tenho outra. Também não quero, moça, que você viva nos EUA, o que eu vivo aqui. Mas lá você não será muito diferente de mim aqui.
Eu era bem tratado e queria ser engenheiro, hoje estou acabado e sou vendedor ambulante... por isso prefiro fotos minhas na infância.

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