28 de setembro de 2015

Exílio

I
desde sempre eu ouço que
no oriente o povo viaja
e no ocidente também.
eu tive uma professora que
estuda literatura de viagem,
a primeira vez que escrevi sobre isso
falei do Odisseu. essa viagem
todos conhecem e as da minha terra
também.
nesta época eu aprendi que ex.
significa fora, e ilio é ilha
uns têm vocação, outros obrigação
de estar fora da ilha.
eu nunca tive coragem de tirar meus pés
da minha ilha, mas quando o fiz me
desencontrei
isso porque tirei apenas um pé
o outro ficou
estou prestes a tirar os dois pés
então posso enlouquecer

II
as pessoas que estão fora da ilha
podem sair porque alguém mandou,
às vezes esse alguém nem é da ilha
mas manda.
às vezes sair da ilha é a melhor opção
não foi uma nem duas vezes que
os judeus ouviram uma voz que dizia
vocês têm uma ilha prometida, vão
e eles foram. isso era bom.
esse povo já viveu na ilha dos
egípcios, babilônios, sírios
eles brigam até hoje para ter uma ilha
e chamar de deles.
na verdade o mundo tem muitas ilhas
e em todas elas tem judeus
em todas elas tem orientais
ouvi dizer que um bigodudo
queria que a ilha dos judeus fosse
em outro mundo e por isso
quase todos eles morreram sem ilha.


III.
tem gente que diz que mulheres não têm ilhas
certo dia eu ouvi dizer que a ilha aonde
habitam meninos de 16 a 18 anos
tem muitos, muitos meninos
mas a ilha aonde habitam meninas
da mesma idade tem poucas, poucas meninas.
eu fiquei feliz, mas soube que essas meninas
ocupam uma ilha invisível, e nela, o corpo
custa dinheiro. foi aí que descobri que
ainda habito a ilha da inocência.
ontem uma amiga relatou que tem muitos sírios
querendo entrar na Alemanha
- a ilha do bigodudo - mas lá não "cabem" todos,
então as meninas voltam à ilha invisível do dinheiro
pelo corpo e pagam para que os meninos entrem,
enquanto elas ficam na ilha aonde tem muito, muito
tiro, bomba, violência, fome MORTE.
dentro de uma ilha cabem muitas ilhas
e alguém coloca as meninas em ilhas imaginárias
como preconceito e desigualdade e "tudo bem!"

IV.
há quatro semanas tenho ouvido adolescentes
falar abertamente sobre ilhas
eles criticam as ilhas imaginárias, mas apoiam
a restrição das ilhas reais
se mais gente entrar na nossa ilha não vai ter
emprego, moradia, saneamento, alimento
mas eles estão confusos, pois seu mestre é um
refugiado. real e imaginário
ele foge da ilha da injustiça, da corrupção
ele habita a ilha do altruísmo, da bondade
difícil. esses adolescentes falam sobre
homossexualismo, feminismo, racismo
aqueles que habitam essas ilhas sofrem
porque quem não as habita acha que é melhor.
muitas vezes eu queria não ter ilha
mas a missão de governar as ilhas está aí,
tem gente que governa muito mal as ilhas.
em outro tempo tínhamos duas opções
obedecer aos maus governantes ou morrer
então quem podia fugia de sua ilha.

V.
as canções e os poemas que eu mais gosto
são de quem está fora da ilha.
estar fora da própria ilha é propício
para escrever. quem está fora reconhece
no outro algo que é impossível perceber
dentro da ilha em que habita. quem te vê
cria uma imagem da sua ilha e que imagem é esta?
que imagem você tem da ilha que não habita?
- depende, se for uma ilha vizinha nem pensar,
mas se for lá em cima do mapa, eu quero ir
eu acho você um bobo.
a ilha não é uma criação é uma construção
o que mais importa na ilha são as pessoas
as pessoas tornam a ilha melhor, mas quem
inventou esse conceito de melhor?
pensando bem as pessoas também tornam
a ilha pior. por que os animais vivem bem?
eles não pensam em melhor e pior
às vezes eu me sinto anormal fora da ilha social
mas isso inventaram porque não sou fantoche real.



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