1 de abril de 2017

o dia em que fiquei verde

Isaac e eu somos primos, mas é como se fôssemos irmãos. Eu sou a moça, que já foi legal e agora é chata, dezoito anos mais velha. De todas as definições possíveis para o nosso relacionamento, posso dizer que Isaac e eu somos amiguinhos, espero que Isaac e eu permaneçamos amigos quando ele se tornar adolescente.
Quando Isaac tinha aproximadamente seis anos, já brincávamos com jogos de tabuleiro. Por algum motivo, que não sabemos explicar qual é, nossa família é levemente competitiva, uns não aceitam perder porque julgam-se melhores em certas atividades e outros - como eu - perdem, mas dizem que foram injustiçados. Isaac faz parte do primeiro grupo e às vezes migra para o outro.
Isaac é um excelente jogador de dama, eu, em contrapartida, não entendo como de repente uma pecinha sai comendo todas as outras pecinhas de uma vez - é isso que Isaac costuma fazer comigo - consequentemente, todos me consideram uma péssima jogadora de dama e neste caso não tenho coragem de dizer que sou injustiçada.
Um dia, e agora sim remeto ao tempo que Isaac tinha seis anos, estávamos só nós dois em casa, e para variar: jogávamos dama. Eu já tinha perdido incontáveis vezes, então pensei "vou pregar-lhe uma peça", então disse:
- Isaac, você sabe que existe um limite para as pessoas perderem nos jogos? Se em um único dia eu perder mais de 50 vezes, para você, eu vou ficar doente, vou ficar verde!"
Conhecendo-me bem, Isaac sorriu e disse:
- Para de mentir, é impossível alguém ficar verde.
Então eu respondi: - Vamos jogar, já estamos na partida 33, se chegarmos a 50 partidas e eu perder todas, você vai ver, eu vou ficar verde.
34, 35, 36... 44, 45, 46...
- Isaac, eu vou ao meu quarto e já volto. (separei toda a maquiagem) Pronto, vamos recomeçar a partida.
- Nani, faltam só quatro partidas para completar 50 derrotas suas na dama e você não está nem um pouco verde. Você está perdendo de propósito?
- Claro que não, você acha que eu quero ficar verde?
47, 48, 49...
-Isaac, você não vai ao banheiro? Você não para de se mexer.
- É eu estou apertado, mas quero te provar que não vai ficar verde.
- Pode ir ao banheiro, eu te espero, Fica tranquilo, dessa vez eu vou ganhar de você para ficar verde. Também estou cansada, foram muitas partidas seguidas.
- Tudo bem , vamos pausa, eu já volto.
Enquanto Isaac foi ao banheiro, passei a maquiagem verde no rosto todo e voltei para a mesa onde estava o tabuleiro, mas permaneci de cabeça baixa.
- Pronto, vamos terminar logo! Disse Isaac.
- Vamos sim, eu estou com um pouco de dor de cabeça, por isso estou com a cabeça baixa, viu. Está muito claro aqui.
- Lá vem, você está me enrolando porque não vai ficar verde, mesmo perdendo, Eu fui bem rápido ao banheiro.
- Aff, nem estou pensando nisso, só quero terminar logo. Quem vê pensa que eu faço tudo para ganhar.
Partida 50. A cada jogada eu dizia que estava me sentindo mal, dor de cabeça, dor nas costas, dor nas pernas. Isaac dava gargalhadas, mas não via meu rosto.
Quando finalmente ele venceu a quinquagésima partida, eu disse:
- Liga para o hospital agora, eu senti uma pontada forte na barriga!
Então, levantei o rosto, tirei o cabelo da face e gemia, fingindo estar passando mal.
- Meu Deus, Nani, você está verde. Não pode ser, é mentira!
- Eu estou verde? Como assim? Não pode ser! Cadê o espelho? Socorro!!! Eu estou verde. Eu estou horripilante, está vendo? Eu te disse! Por que você não me deixou ganhar?! (comecei a chorar)
- Eu não sei o número do hospital, eu não queria fazer isso com você. Desculpa, você vai ficar bem, eu não quero que você morra. Eu estou com medo.
- Eu também não acredito que estou verde. Eu te disse, você não acreditou.
- Que tal a gente jogar de novo e você ganhar?
- Eu não quero mais jogar, faz um favor para mim. Pega água para eu beber e papel pra eu secar o suor. Talvez bebendo água eu me sinta melhor.
- Pronto, está tudo aqui.
Eu levemente molhei o papel na água e fui passando no meu rosto. De repente fiquei com meu tom de pele normal e disse:
- E agora? Quem venceu essa fui eu! (gargalhadas)
- Como você pode fazer isso com uma criança? Você é TERRRÍÍÍÍÍÍVEL!

(essa história terminou com Isaac gritando, chorando e gargalhando ao mesmo tempo, me perseguindo pela casa e tacando pecinhas de dama em mim. No fim ele disse que ninguém tinha uma irmã como a dele e então ficamos verdes.)


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