29 de outubro de 2014

Insegurança (parte dois)


Há alguns anos, quando pela primeira vez a escritora falou sobre insegurança, ela a associou ao casamento, disse que toda noiva antes de entrar na igreja pergunta se o noivo já está lá - mas afinal, por que não estaria? E por que, de fato, toda noiva pergunta isso?
Hoje ela parte para uma nova viagem. Constantemente ela sente vontade de viajar, como se de alguma maneira a viagem tivesse alguma relação com a escrita, mas ela não sai do mesmo lugar e pior, a viagem não tem relação nenhuma com a escrita, essa é a desculpa que ela inventa para fugir de si mesma.
Hoje ela decidiu não justificar o texto, cansou-se da perfeição que lhe é exigida (exigida do texto, é claro). Em que medida essa vontade de fugir que sente a escritora relaciona-se com a insegurança? Será que as noivas têm medo de que seus futuros maridos saiam correndo da igreja quando elas chegam? Será que é por isso que se arrumam tanto, pensam que se estiverem bonitas eles terão um motivo a mais para ficarem?
Hoje, quando viajou de uma estação de trem para outra, ela rememorou. Eu estou contando essa história, mas já não sei quem viajou, se foi ela ou a noiva, ou se ela é a própria noiva. Sei que as lembranças de sua família, das mulheres - que não foram deixadas no altar, mas ficaram sós logo depois -, do seu relacionamento - de um homem que parece ser só de uma mulher -, a acompanham dia após dia, e ela sente vontade de escrever sobre isso, mas não sabe.
Elas são medrosas, deixam o destino conduzir esse trem que faz viagens circulares. Avó, mãe, tia, todas casaram, já, já esse trem para na estação casamento. Ela pediu à escritora que elaborasse uma declaração muito bonita, mas de vale as palavras se as ações não corresponderem?


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